A Capitu dos meus sonhos.
É muito difícil que alguém ao ler um livro, não tenha associado a imagem que faz de um personagem com a imagem real de uma pessoa. Pois é. Tive uma grata surpresa. Há alguns dias eu estive fotografando em Paraty , RJ, . O “job” era um catálogo de publicidade para uma renomada empresa de Cama&Mesa&Banho&Underware de São Paulo. A maioria das pessoas envolvidas no projeto formam um time fixo de profissionais de alta qualidade que trabalham em conjunto faz um bom tempo. As pessoas que trocam são os modelos e eventualmente os maquiadores.Antes do ínicio das viagens, todo mundo se reúne e são feitas as apresentações necessárias. Ao entrar no micro-ônibus da produção eu vi a modelo escolhida, que estava “devorando” um livro. Fui apresentado a ela que me deu um sorriso levemente tímido. Para quebrar o gelo, perguntei o que estava lendo. Ela disse o nome do livro , que eu já esqueci e o nome da autora “Nora” e eu respondi de bate-pronto “Ephron”. Na hora senti uma grande simpatia por ela, uma familiaridade pouco comum com alguém que acabara de conhecer. Horas e intermináveis horas depois, chegamos em Paraty, a noite. “Daqui a meia hora na recepção” era o ” mini boss ” convocando o pessoal para o jantar. Depois de rodar a cidade em busca de um bom restaurante aberto naquela hora, só achamos barzinhos, acabamos em uma pizzaria com decoração charmosa e pizzas horrorosas. Após mastigar cimento de construção com queijo, fomos dar um giro pelo pier da cidade antes do “goodnight” sem “birinight”. No dia seguinte, as 6 da matina, hora de levantar para tomar o café da manhã e depois sair para a maratona de fotos. Chegamos em uma casa legal bem na beira-mar. O dia estava lindo, ensolarado sem uma nuvem no céu. Pensei que o trabalho seria uma dureza e foi mesmo, mas os resultados compensaram o grande esforço. Depois de algumas centenas de fotos, demos um pequeno “brake” para o almoço, aliás muito bom, providenciado pela empresária que acompanhava as fotos. Sem tempo para “jiboiar”, reiniciamos o trabalho, agora com modelos, já que anteriormente haviamos clicados só os produtos. O maquiador/cabeleireiro entra em cena e de repente começa a grande metamorfose. A tímida e simpática moça se transforma na Capitu do meu imaginário, óbvio que só eu percebi. Conforme o casal de modelos começou a desempenhar melhor, a bela morena ia se tornando cada vez mais a Capitolina, a Capitu do célebre livro “Don Casmurro” de Machado de Assis. Esses clicks dela me remeteram a minha juventude, mais precisamente na quarta série ginasial, quando tive a obrigação e o prazer de ler o livro, graças ao meu professor de Português, o Barbosão. Clicks e mais clicks e a morena desabrochando, cada vez mais a vontade. Na minha frente uma beleza Machadiana dissimulada , uma beleza Brasileira. A morena sestrosa do Ary Barroso. A morena ingênua e sensual do Jorge Amado. A presença africana forte nos seus traços. Enfim a materialização da personagem na minha frente. Tive vergonha de contar a ela e a equipe o “barato” que estava vivenciando. Hoje, mais tranquilo posso dizer ” Obrigado moça bonita. Você resgatou um pouco da minha adolescência em pequeníssimos intervalos entre uma foto e outra no bucólico cenário de Paraty”. Agora vou continuar na busca de Bentinho e Escobar, quiçá em outro cantinho do Brasil.É isso aí.
12/08/2011 | Categorias: Cidades, Cultura, Viagens | Tags: Beleza, Bentinho, Capitu, Cidade Colonial, Escobar, Escola, Fotos, Literatura, Livros, Machado de Assis, Morena, Paraty, Português | Deixe um comentário